sábado, 25 de dezembro de 2010

Dezembro

Olhava fixamente através da janela semi coberta pela cortina. A cortina de espirais coloridos que ainda se encontrava ali, debatendo-se pelo vento, tão maleavelvemente. Cobriam a vista de Carolina esses espirais coloridos dançando fluorescentemente à sua frente ao som de Tiersen, enquanto seus pensamentos misturavam-se à chuva fina e fria de dezembro, ao piano triste de La dispute.

Seus pensamentos iam muito além de espirais dançantes, chuvas renitentes e longas fumaças tragadas. Seus pensamentos iam até lá, àquela época. A nostalgia era densa, bem mais que a fumaça. Tão presente que Carol chegou a pensar está revivendo aquela dor outra vez. Aquela dor que se fez muito necessária até. Pois sem ela jamais teria aprendido tudo. Conformado tudo. Sofrido tudo. Se rebelado contra tudo. Se libertado da mentira e aprendido.

Ela lembra. De olhos fechados, apertando as lágrimas calmas que escorriam sem serem enxutas da face pálida de frio, através dos óculos quebrados [naquela época]. O coração batia forte a cada vez que as notas da música iam fluindo, cada vez que o piano disparava. O filme vinha à mente.

Dezembro é quando, em sua memória, seus desejos ainda não realizados, suas saudades, suas dores, toda a merda de uma época vêm à tona tudo misturado. Sentimentos, sensações mistas às lágrimas que caíam ao som, à chuva, ao frio. À vontade de achar a tal felicidade que ainda não sabe se é verídica. Esperanças de fim de ano, de que as coisas mudem, de que tudo vá à merda, de que eles estejam sempre perto e que os outros vão embora. De que a música transpire sempre as sensações. De que suas vontades mais inconscientes, aquelas abraçadas com o ID, não a machuquem e nem a ninguém. Que seus medos não se concretizem e que ali mais à frente aperte a mão da invisível felicidade.

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