segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Espelho

Parece coisa feita. Dezembro acaba sendo sempre igual. O mesmo frio nos olhos refletidos pelo espelho do banheiro esquecido pela vassoura, balde e sabão. Aliás, que saco é lavar banheiro:

- Tenho mais o que fazer. Preciso treinar meu olhar-de-fim-de-ano no espelho. Ensaiar sorriso e um “prospero ano novo”, no mínimo, sociáveis.

Dez minutos na frente do espelho sempre resulta em frustração. Junto às olheiras e remelas, a percepção do tempo na face cansada, e mesmo assim ainda jovem, é nítida. Começa o momento nostalgia. Por trás de sua fiel e quase leal cópia, presa no retângulo pregado na parede, começa o filme dos aproximados trezentos e trinta e cinco dias até então.

As músicas e cheiros vêm à tona com força surpreendente. Lembranças latentes. O perfume dos protagonistas é tão forte quanto a trilha sonora. Tudo sempre muito vasto. A imagem, misturas de cores, velocidade das cenas são muito bem precisas ali na parede. Aliás, direção e produção lhe chamam tanta atenção quanto ao roteiro e ao elenco. E que elenco, que histórias!

A efemeridade sempre a assustou, mas esse ano a coisa se superou. O tempo é realmente uma caixa de surpresas. Porém não muito boas, como de práxis.

As lembranças a faziam fechar os olhos, franzir a testa, respirar fundo, engolir choro, lamentar, sorrir, lamentar outra vez, às vezes gargalhar. É, a parte cômica, devido algumas belíssimas e hilariantes atuações, também muito se marcou. Não foi de todo uma tragédia grega.

Dezembro. Fim de ano. Nostalgia em frente ao espelho. Olhar distante e lembranças com gosto de música e cheiro de vozes. Um olhar que passa de vago e frio à quente, vermelho e molhado:

- Obrigada, espelho.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Quarto

Dançavam àquele som familiar que saia do play list do computador próximo à janela. A luz cinza e nublada adentrava naquele espaço pequeno, o suficiente pra iluminar a lágrima que escorria do rosto mais triste daquele quarto.

O outro olhar, seco, lhe cessava as lágrimas aos poucos. Mas ainda era preciso muito pra que lhe fizesse trocá-las por o mínimo de sorriso possível. Era preciso muito que dizer, muito que beijar, muito que abraçar, muito que ouvir.
A musica acelerava enquanto os corações batiam. Chegou a hora, ela sabia. Mas cadê a coragem?

Eis que surgiu.

As palavras iam lhe escorrendo desesperadas pela boca, assim sem racionalizar. Eram vomitadas em cima da camisa branca que iluminava perfeitamente o castanho daquele olhar seco e insistente em se manter assim. Os palavrões saiam doces e o que tinha de mais bonito a ser dito saiu amargo. Mas não podemos culpá-la. A culpa foi do tempo, das lágrimas. Da época e das estrelas. Do medo de se estar sob elas. Do medo de não ser vista por elas.

Entendes? A culpa foi sempre das estrelas.

As palavras se foram, mas a adrenalina continuava no quarto. Dessa vez acompanhada do silêncio que lhe agoniavam os tímpanos. O medo era perturbador, quase podia ser visto. A vontade idem e era recíproca, finalmente.

Os medos eram compartilhados, a dor era compartilhada. Assim como as palavras, a vontade de sorrir, o cessar das lágrimas e a libido forte.

Tocaram-se com ênfase. Era misto de saliva, adrenalina, paz, gozo, lágrima e alívio. Pena que o despertador tocou pra lembra-la de que a realidade renitente necessitava lhe abrir os olhos às nove da manhã.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

É só o inverno chegando. Mais uma vez.

Até que o mínimo de calmaria se estabilizou em si, pouco antes de sair do batente. Porém seu semblante mudou imediatamente ao sentir o vento quase gelado na face. A brisa forte vinda do céu escurecido. Esse com constante cara de chuva, típico desta época. Coração apertado, como de quem espera algo há tempos. Olhos sem foco, como quem vaga o olhar a procura do esperado. Mãos e dedos que logo anseiam em transcrever sua dor. Essa mesma dor causada pelo frio e pela ausência do mais esperado psicotrópico, nunca receitado pelo doutor.

A viagem toda, naquele coletivo-de-sempre-lotado, pensava em todas as outras épocas assim parecidas. Todas as lembranças que insistem em se fazer presente, por mais inconscientes que pareçam estar. Suas lembranças mais egoístas afloram, junto ao clima, ao vento, ao vago vazio de um olhar perdido no tempo – que nunca volta.

Dessa vez é Paranoid Android que embala a cortina colorida maleável ao vento. Espirais dançantes na janela do quarto. Aquele onde outrora Tiersen a fez chorar com tanta empatia.

A dúvida chega. O medo se exalta. A música transpira pelos poros abertos, arrepiados pelo conjunto de ansiedade e frio. A libido se torna mais explícita. Bem no momento em que seus olhos se fecham e um olhar castanho lhe invade a mente.

Será impossível parar o barulho? Ela só está querendo um pouco de sossego.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

"Fantasmas existem. Sinto informá-la"


É. Fantasmas assustam. Principalmente quando se dá conta de que eles existem. Fantasmas do passado que simplesmente param de assombrar. Talvez assuste mais. Ter a consciência de uma realidade que se pensava ainda tão distante. Ter a certeza de que até mesmo fantasmas desistiram de ti.
Bateu na minha porta bem no começo da semana. Quando abri, tomei aquele susto. Chorei, ri, vibrei, vomitei a sôfrega angustia há muito presente. Foi um misto de podridão que saía de uma pele cansada e marcada pelo sol. Além do alívio causado pela ausência da dor que outrora era marcada sob as estrelas.
Alívio, dor e sujeira humana.
Veio se despedir pra sempre. Doeu, mas também já não aguentava mais sua assombração misturada à minha dor física provocada pelo cansaço da espera e ao nó cada vez mais apertado aqui. Acho que nem ele aturava mais a minha presença. Não aturava o meu reflexo em um espelho no qual ele se olhava.
Mas quer saber? Começo a pensar que o maior problema não foi a despedida ríspida, ao mesmo tempo silenciosa. Porém a presença de um próximo fantasma que se encontrava bem atrás do que já ia tarde.
O do passado se despediu silenciosamente. O outro se apresentou, apertou a minha mão, me sorriu, disse seu nome:
- Prazer, eu sou o seu fantasma do futuro.

domingo, 13 de março de 2011

Sentimento de estimação.

Eu tinha um desses. Desses que se costuma ter quando se tá feliz. Apesar de ter certo fascínio em criá-lo debaixo da minha tristeza meio molhado de lágrima. Mas eu tinha um. Perdi em janeiro. Janeiro não é um mês tenso? Carrega nele toda uma expectativa de futuros onze meses. Sei lá, dá frio em barriga.

Mas eu tinha, era falso, mas tinha.

Meses foram se gastando e ganhei outro. Oquei, eu menti. Mas quem não mente? Não ganhei, achei no chão, enrolado em merda, podre, uma essência podre e cheio de coisas que muito me atraíram. Nossa, como me atraíram! O lado sujo, escuro e triste, sempre me entorpece, me deixa estática em pensamentos que andam mais que meus pés, que correm mais que criança e voam pra lá, pra onde eu guardo tudo de mais meu, de mais secreto, de mais errado, de mais promíscuo, de mais humano.

Me identifiquei de cara com esse outro, tão vivo e cheio de manias. Mania de egoísmo, mania de saudade, mania de tristeza, mania dele, só dele. Feito gente. Talvez até mais gente que eu. Talvez, por isso resolvi criá-lo.

Alimentei por meses, contando os dias pra crescer. Claro que tive medo, de me machucar, levar uma arranhada ou uma mordida de tirar pedaço. Mas foi um risco que eu quis correr, eu precisava de um novo pra me sentir viva. Me dispus. Fui seduzida pelas manias que pareciam tanto com as minhas.

Cresceu noutro janeiro, mas foi ingrato. Levei a mordida. Talvez até tivesse sido eu a culpada. O mimei e não me protegi, mas como disse, era um risco preciso. Precisava mais dessa, de mais história, de mais uma dor. Ou talvez a culpa tenha sido mesmo do janeiro, da expectativa.

O cheiro da sua saliva ainda quente permanece. Nela eu consigo ver as manias, a podridão de um pseudo-humano, consigo sentir a dor da perda. É quando a lágrima cai em cima que penso e foco mais e mais a dor. Não a dor da mordida, mas a dor da alma. Dessa que vaga por aí, à procura de um janeiro mais calmo.

Não deu tempo pra saber se era, ao menos, verdadeiro.

domingo, 6 de março de 2011

Quem sabe mais uma necessidade

Talvez ele saiba do que esteja precisando. Talvez morra só em pensar na possibilidade. Essa de jogar tudo fora, deixar estar assim, de não sentir mais o coração apertar toda vez que a escuta. Por mais que a dor exista agora, é melhor senti-la do que não sentir coisa alguma.

Essa robotização das relações inter-intra-extra-pessoais o chocam. O constrange diante do fato de saber que nele o que mais existe é o pulso da corrente sanguínea, correndo exagerados quilômetros por hora. Enquanto os outros ali, diante de copos e fumaças, o contam como funcionam suas relações, em quais botões apertam e como os desligam sem muita dificuldade, sucateando tudo.

Foi nessa hora que pensou em ligar. Era só discar o número gravado já na mente. Bateu o nervoso. A corrente de sangue correu.

“Alô”

As coisas não saíram como imaginou. O pensamento recorrente da desistência o tomou mais uma vez. Talvez seja isso mesmo. Essa seria a solução de merda mais viável. Mais uma robotização. Mais um fim sucateado. Um suspiro pesado, um gole de cerveja barata, um arroto engasgado: um botão apertado.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Só uma nota, nada além disso:

Eu que já não chorava,
comecei ontem.
Recomecei
por uma porra de começo que já faz tempo
Mas pro meu gosto,
não tem cara de fim.
Pro meu desgosto
não tem cara de nada
E quem vê cara, vê sentimento?

quarta-feira, 2 de março de 2011

Cheiro derramado

O cheiro derramou exalando o doce sobre a camisa clara, deixando transparecer o respirar profundo. Causando o mesmo efeito colateral de sempre. Trouxe consigo de lá, do lugar de origem. Das palavras que assustaram, das salivas que neutralizaram o ácido do momento e do nó oculto como conseqüência.

As estrelas foram testemunhas daquele cheiro alucinógeno, mesclado ao pensamento insistente e lembranças recentes.

Presente no seu exercício constante. Musculação do cérebro, enfraquecimento do coração e fortalecimento das neuras. O quebra-cabeça de momentos, dos últimos meses, tem sido o seu mais sufocante passatempo. Uma asfixia necessária à existência do sentimento. Pertinente nas leituras e interpretações das peças ali presentes, na esperança enrustida em cada pedaço de cena formada por cada peça.

E as estrelas sabem de tudo.

O toque das notas nos ouvidos presentes. A troca musical entre a audição, olfato e tato. Momentos confusos enrolados ali. O cheiro musical, o cheiro do momento, o cheiro derramado sob as estrelas e sobre a camisa.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Medo de gente morta?

A chuva fina e renitente batia na janela do quarto. Entreaberta, deixava o vento frio entrar enquanto balançava a cortina de pano, mole, fino, quase transparente, em conjunto com o pouco de água que entrava por entre a janela e caía ao chão, bem perto de um “Sidney Sheldon”, em cima do criado mudo ao lado da cama de Sofia. A dança da cortina ora cobria a churrasqueira velha, caindo aos pedaços, no quintal escuro visto da janela, ora não.

As nove, bem quando a chuva no quarto entrava e a cortina dançava, Sofia torcia sua chave na maçaneta da porta da sala. Travou. Sem guarda-chuva, a água lhe batia nos cabelos longos e cacheados, deixando filetes de água escorrer sobre seus olhos borrados de rímel. Foi um dia agoniante, não conseguiu êxito na possibilidade de emprego que lhe havia aparecido e ainda assim, nem em casa conseguia entrar:

“Porra. Chave filha da puta!”. Ela era boa com os palavrões.

Fechou os olhos e respirou fundo. Tentou mais uma vez. Abriu. Entrou. Amarrou os cabelos no alto ainda em direção à porta. Acendeu a luz da sala, largou a bolsa no sofá e sentou. Fechou os olhos e ouviu um barulho vindo em direção da cozinha. Levantou receosa e deu dois passos a sua frente, em direção a cozinha escura. Havia alguma coisa ali, uma espécie de sombra, mas algo instantaneamente lhe tirou o foco. O telefone tocou ensurdecedoramente e a obrigou, com um susto, o atender:

“Alô!”
“Alô, amor, vou chegar mais tarde. Acabei perdendo a hora na casa do Raul, me distraí ouvindo uns sons. Tás com fome?”
“Sim, seria uma boa trazer alguma coisa da rua, como pedido de desculpa pelo atraso.”
Oquei, vou vê o que faço. Cuidado. Até daqui a pouco.”

Desligou e resolveu deixar pra lá a cozinha, pensando “Provavelmente coisa da minha cabeça”. Sua roupa molhada lhe marcava o corpo, deixando à mostra uma barriga saliente, que tanto lhe encomodava. Foi ao quarto trocá-la. Ao ver a janela esquecida entreaberta, seu livro quase molhado e sua cortina dançando ao vento, fechou o espaço que faltava. Sem perceber que, atrás da churrasqueira, a mesma sombra da cozinha ali permanecia.

Pensou na cerveja que se encontrava na geladeira e foi até a cozinha, sem se importar com o barulho que momento antes havia ouvido. Abriu a garrafa e bebeu na boca mesmo, sem cerimônias. Soltou um arroto, que por conveniência social, estava preso desde cedo. Selecionou umas músicas no play list do seu computador e um som abafado, de pés em contado brusco com o chão, veio de seu quarto, bem quando começava Down in Mexico. Uma faísca de medo começou a surgir, indo contra a sensação natural proporcionada pela música: vontade de foder.

Aquilo a neurou intensamente e de imediato, lembrou do barulho vindo da cozinha. Com certo receio, foi até o quarto. Sofia tinha um defeito, de acordo com seu namorado, sentia muito mais medo de gente morta do que de gente viva.

A janela estava aberta e a cortina dançava novamente. Franziu a testa ao pensar “eu acabei de fechar essa merda”. Fechou novamente. Virou-se rápido em direção a porta. Queria o telefone, queria ligar pra ele. Porém nesse momento tudo ao redor pareceu sumir e o único foco era o que se encontrava em pé diante da porta. Tudo o que Sofia conseguia avistar naquele momento era algo de um preto intenso, de uma roupa preta intensa, olhos de um preto intenso e um sorriso doentio. Olhos que a fitavam ao levantar a faca em sua direção. Uma faca enferrujada, feia e torta que avançava em cima, de seu corpo pequeno e desprotegido, junto à coisa à sua frente.

Correu desesperada, em um grito sufocado, em direção à porta, mas não obteve êxito. Aquilo a agarrou. Sem pensar duas vezes lhe enfiou a faca na barriga, cheia apenas por uns goles de cerveja velha, retirando-a devagar e a enterrando novamente. Repetiu o movimento algumas vezes, mais rápido, contracenando com a música vinda da sala. Era uma analogia ao ato de copular. A faca entrando e saindo das entranhas de Sofia. Era assim que aquele monstro se excitava. Com o movimento e o vermelho intenso que escorria sobre seus pés. Um olhar de gozo foi a última coisa que os olhos, ainda com vida, de Sofia conseguiram enxergar.

Às onze:
“Sofia? Sofia? Acorda amor. Eu trouxe comida, vá trocar essa roupa molhada”

Ela acordou assustada, olhava, sem entender coisa alguma, pro rosto de seu namorado. O abraçou forte e percebeu que tudo foi um pesadelo. Desses que, quase todas as noites, tinha quando mais nova. O beijou. Levantou e olhou pro lado. Lá estava ela, em cima da mesa do telefone: a faca enferrujada, torta e feia.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O inconsciente de um sonho já consciente

Os sonhos são considerados as coisas mais loucas da coisa mais complexa que é o homem [sua mente]. Acho que por isso é louco. A complexidade guarda com muito carinho a loucura. E a loucura a sete chaves a complexidade. Pra falar a verdade, não tenho apreço pelo simples e pelo lúcido [não o tempo todo]. Que graça tem o caminhar dos dois juntos, a todo o momento? O papo é desvendar, descobrir, o sentido e motivo de tudo, com o decorrer da loucura de certas atitudes, bem devagar. Eu disse “devagar”, o que nada tem a ver com intenso.

A origem de um sonho é considerada, ainda por muitos, o inconsciente. Apesar de achar que o caso aqui difere um pouco. Esses me parecem bem conscientes. Presentes todos os dias. É, tenho plena consciência desse desejo. Confesso que antes, andava guardado ali no fundo da massa enrolada de dentro da minha cachola enrolada. Mas agora é bem mais explícita sua origem.

Não tem coisa mais escrota: acordar de manhã de uma irrealidade tão boa. Me acordei com um aperto. Parecia tão real. Uma chave em um chaveiro colorido. Uma porta. Uma sala, pequena, mas só minha. Uma cozinha. Quarto. Banheiro. Pronto. E os braços abertos. Braços em conjunto com um olhar e um sorriso gigante em perfeita combinação aos cabelos, feito de alguém que há muito tempo não me via e que aparentava felicidade ao fazer.

Chaves, porta, sala, cozinha, quarto, banheiro e abraço. Combinação alucinógena.

Mas o que eu dizia? Ah, sim, o sonho quanto mais louco é, melhor. E quanto mais cores têm, mais sons, mais cenas, a realidade parece mais próxima. E machuca, por isso. O que foi dito naquele abraço, naquele espaço, eu guardo aqui, nas lembranças. Foram frases misturadas, tiradas de um canto real e de outro criado no inconsciente já consciente das minhas vontades, transpassadas ao sonho.

Sei que corro aqui um risco grotesco de ser clichê. Mas sabes de uma coisa? Quanto mais se trata de sentimento, de loucura, de vivência, o clichê vai tá ali de mão dada com tudo isso. E sempre vai ser bem visto, por mais que aparente brega. Mesmo não gostando dessa palavra. É, talvez por preconceito, mas nada que a minha vivência não resolva isso com o tempo. Assim como esse sonho. Nada que a minha vivência não me permita agir acompanhada da loucura e não dê uma força ao tempo, tornando o desejo real.

O sonho também tem outra origem. Dizem. Menos científica, é verdade. Mas dizem que alguns são acompanhados da paranormalidade e acabam por prever certos acontecimentos. Eu bem que ia gostar em descobrir que adivinhei esse momento. Mas, às vezes, quando essas possíveis adivinhações se tornam preguiçosas, a gente têm que dá um empurrãozinho.

#Ficaadica!


quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Planejamento-Plano-Meta [E Subjetividade]

Ela fica a maior parte do tempo em seu quarto de pensamentos. Talvez por, de certa forma, se sentir mais a vontade ali do que em qualquer outro cômodo do que não lhe pertence. Talvez, não. É.

E quando sai dali, se cansa. Cansa de estuprar seus tímpanos todos os dias com palavras desnecessárias, com neurices alheias de todos os dias. Com aquelas que saem grossas, secas e duras bem quando despejadas. E pelas pessoas erradas.

Um dia desses, em um momento até que tranqüilo. Nas companhias certas. No lugar certo, mas na hora errada, se perguntou: “Caralho, qual é meu papo?”. Talvez ainda sob efeito do psicotrópico usado no dia anterior. Os amigos riram. Na hora a pergunta saiu como uma piada [Aliás, nunca perde essa mania]. Também riu. E bastante.

Depois, já em seu quarto percebeu o quanto que aquela pergunta vai muito além. Não queria apenas saber qual era seu papo ali. Queria saber o que pensava a respeito de tudo. Do que andava lhe ocorrendo meses antes daquele momento e do que viria a lhe ocorrer depois. Queria saber do papo de todo o filme que passou em sua cabeça algumas horas antes, juntamente às explosões multicoloridas, típicas dessa época.

Um amigo lhe disse, há pouco tempo, que o que a garota precisa é de planejamento, de organização de metas. É, toda essa subjetividade insistente em seus pensamentos, talvez precisem ser transvestidas de objetividade. Mas como? Ela ainda se pergunta. Apesar de tentar. Acho que, além do que seu amigo disse, precisa também de iniciativa. Estranhamente, pois ausência de atitude não costumava ser o problema.